Às vezes é difícil entender, interpretar os textos que nos são dados porque não observamos os elementos que são responsáveis pela textualidade. Para a maioria dos alunos continua sendo difícil compreender o que é polissemia, o que é denotação e conotação e por aí vai. Sem esse conhecimento básico fica difícil caminhar no uso da Língua Portuguesa, sempre teremos dificuldade para dar o próximo passo. Por isso mesmo é que este artigo tratará de elementos bastante simples como leitura e compreensão de textos. Primeiramente, falarei sobre alguns conceitos básicos sobre isso e depois proponho alguns exercícios com gabarito.
O que é linguagem e como isso cai nas provas?
-O indivíduo aprende naturalmente a língua da sociedade em que vive, graças ao convívio com os seus pares.
-Quando um brasileiro, por exemplo, afirma que não sabe Português, isso só pode ser interpretado em dois sentidos: ou ele está querendo dizer que não sabe a variante culta do Português, ou que não sabe justificar por meio de regras o uso da língua aprendido naturalmente. Falar com correção tem sua importância, mas não é suficiente para indicar bom desempenho no uso de uma língua.
-O domínio versátil de uma língua se mede basicamente pela capacidade de compreender e produzir textos com a maior eficiência possível. Mais importante que falar correto é ser capaz de apreender significados e correlacioná-los com outros que circulam no universo cultural.
-Quando se discute a questão do bom desempenho no uso da língua, há certos mal-entendidos que precisam ser esclarecidos. Um deles é que falar bem é o mesmo que falar difícil ou falar “bonito” como as pessoas consideradas chiques. Há situações em que “falar difícil ou bonito” soa como pretensioso e grotesco, sendo, portanto, inadequado.
Texto para os exercícios de 1 a 3
Para falar e escrever bem, é preciso, além de conhecer o padrão formal da língua portuguesa, saber adequar o uso da linguagem ao contexto discursivo. Para exemplificar este fato, leia o texto “Aí, galera”, de Luís Fernando Veríssimo. No texto, o autor brinca com situações de discurso oral que fogem à expectativa do ouvinte.
Aí, galera
Jogadores de futebol podem ser vítimas de estereotipação. Por exemplo, você pode imaginar um jogador de futebol dizendo “estereotipação”? E, no entanto, por que não?
– Aí, campeão. Uma palavrinha pra galera.
– Minha saudação aos aficionados do clube e aos demais esportistas, aqui presentes ou no recesso dos seus lares.
– Como é?
– Aí, galera.
– Quais são as instruções do técnico?
– Nosso treinador vaticinou que, com um trabalho de contenção coordenada, com energia otimizada, na zona de preparação, aumentam as probabilidades de, recuperado o esférico, concatenarmos um contragolpe agudo com parcimônia de meios e extrema objetivida-de, valendo-nos da desestruturação momentânea do sistema oposto, surpreendido pela reversão inesperada do fluxo da ação.
-Ahn?
– É pra dividir no meio e ir pra cima pra pega eles sem calça.
– Certo. Você quer dizer mais alguma coisa?
– Posso dirigir uma mensagem de caráter sentimental, algo banal, talvez mesmo previsível e piegas, a uma pessoa à qual sou ligado por razões, inclusive, genéticas?
– Pode.
– Uma saudação para a minha progenitora.
– Como é?
– Alo, mamãe!
– Estou vendo que você é um, um…
– Um jogador que confunde o entrevistador, pois não corresponde à expectativa de que o atleta seja um ser algo primitivo com dificuldade de expressão e assim sabota a estereotipação?
– Estereoquê?
– Um chato?
– Isso.
Luís Fernando Veríssimo. Correio Braziliense, 13/5/1998.
1. (ENEM) A expressão “pega eles sem calça” poderia ser substituída, sem comprometimento de sentido, em língua culta, formal, por:
a) pegá-los na mentira.
b) pegá-los desprevenidos.
c) pegá-los em flagrante.
d) pegá-los rapidamente.
e) pegá-los momentaneamente.
Resposta: B
2. (ENEM) O texto retrata duas situações relacionadas que fogem à expectativa do público. São elas:
a) A saudação do jogador aos fãs do clube, no início da entrevista, e a saudação final dirigida à sua mãe.
b) A linguagem muito formal do jogador, inadequada à situação da entrevista, e um jogador que fala, com desenvoltura, de modo muito rebuscado.
c) O uso da expressão “galera”, por parte do entrevistador, e da expressão “progenitora”, por parte do jogador.
d) O desconhecimento, por parte do entrevistador, da palavra “estereotipação”, e a fala do jogador em “é pra dividir no meio e ir pra cima pra pega eles sem calça”.
e) O fato de os jogadores de futebol serem vítimas de estereotipação e o jogador entrevistado não corresponder ao estereótipo.
Resposta: B
3. (ENEM) O texto mostra uma situação em que a linguagem usada é inadequada ao contexto. Considerando as diferenças entre língua oral e língua escrita, assinale a opção que representa também uma inadequação da linguagem usada ao contexto:
a) “O carro bateu e capoto, mas num deu pra vê direito.” – um pedestre que assistiu ao acidente comenta com o outro que vai passando.
b) “E aí, ô meu! Como vai essa força?” – um jovem que fala para um amigo.
c) “Só um instante, por favor. Eu gostaria de fazer uma observação” – alguém comenta em uma reunião de trabalho.
d) “Venho manifestar meu interesse em candidatar-me ao cargo de Secretária Executiva desta conceituada empresa.” – alguém que escreve uma carta candidatando-se a um emprego.
e) “Porque, se a gente não resolve as coisas como têm que ser, a gente corre o risco de termos, num futuro próximo, muito pouca comida nos lares brasileiros.” -um professor universitário em um congresso internacional.
Resposta: E
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