Em entrevista à equipe de comunicação do CAD, Fernanda fala sobre os sentimentos, relações e apresenta dicas para este momento atípico.
Como sabemos, a nossa psicóloga está em ação! Trabalhando home office e preparada para lidar com todas as questões que o isolamento social nos traz, Fernanda Loureiro tem atendido os alunos que a procuram, por meio de agendamento prévio.
Neste período, a psicóloga também tem estudado e se dedicado para entender melhor essa circunstância tão incomum que vivemos e os desdobramentos do momento para a saúde mental dos alunos, famílias, professores e funcionários.
Dessa forma, ela bateu um papo com a gente sobre alguns pontos relevantes. A seguir, confira a entrevista na íntegra.
Para você, quais as principais consequências para a saúde mental das famílias e alunos, em meio à pandemia?
No que se refere as questões emocionais, não há dúvidas de que o isolamento social potencializa os nossos sentimentos, sobretudo, os negativos. Como há uma maior exposição às incertezas, existe uma tendência para que tanto os familiares quanto alunos passem a apresentar comportamentos que não eram vistos antes da pandemia, desde a maior dificuldade na realização das atividades [que eram] habituais, até – em casos mais extremos – o desenvolvimento de alguma doença mental.
O fluxo e a velocidade das notícias e informações aumentam o sentimento de exaustão mental? Existem recomendações sobre isso?
O excesso de dados, bem como de referências desencontradas, pode causar uma grande sensação de desconforto. Sendo necessário, então, que haja um policiamento ao consumir tais informações. É importante ressaltar a necessidade de se buscar o conhecimento, no entanto, informar-se apenas de forma suficiente – não demasiadamente.
Definir os reais riscos da pandemia evita a possibilidade desse imaginário popular produzir a ideia de que ela não exista ou que não chegará aos nossos ambientes, fazendo com que não se tenha a devida seriedade ao fato. No entanto, a recomendação é de que se estabeleça um horário para a busca de informações sobre o assunto, que isso ocorra no máximo duas vezes ao dia. Além disso, é preciso restringir o consumo de informação às fontes confiáveis, como sites de notícia com credibilidade e canais oficiais. Por fim, também devemos buscar notícias positivas. Essas medidas evitam uma exaustão mental.
Podemos dizer que a ansiedade trata principalmente das incertezas do futuro? Se sim, como ponderar essa sensação, diante de dias subsequentes cada vez mais incertos?
A ansiedade trata-se de um sentimento vago e desagradável de medo, apreensão, que se caracteriza por tensão ou desconforto derivado de antecipação do perigo, de algo desconhecido ou estranho. É importante que se possa diferenciar a ansiedade dita como normal da ansiedade patológica, para isso é necessário avaliar se a reação ansiosa é de curta duração, autolimitada e relacionada ao estimulo do momento ou não. A ansiedade é tida como patológica quando passa a se apresentar de forma exagerada, desproporcional em relação ao estímulo, sendo muito diversa do que se observa como norma naquela faixa etária e passa a interferir na qualidade de vida, trazendo desconforto emocional ou dificuldade de desempenhar as atividades diárias.
Se o individuo apresenta tal comportamento é necessário que o mesmo busque ajuda profissional especializada na área.
Sabe-se que a ansiedade é um estado emocional cada vez mais comum da vida moderna e que tem afetado muitos adolescentes e pré-adolescentes. Em tempos de pandemia, percebe-se um aumento dessa sensação. Assim, quais seriam as suas dicas e recomendações para os nossos alunos que enfrentam a ansiedade?
Após observar que se trata de uma forma leve de ansiedade, existem alguns cuidados que devemos tomar para lidarmos com a mesma da melhor maneira possível, para que não haja um grande impacto na saúde mental. Separei alguns pontos que podem ajudar:
Primeiramente, é importante se ter uma rotina, criar horários de estudos, intervalos, refeições e também ter momentos de descanso e lazer, a rotina é fundamental para organizar a mente durante o período de isolamento social. Praticar atividades físicas também ótima maneira de combater o estresse e ansiedade, melhorando a autoestima, a qualidade do sono e de concentração. Como já dito, filtrar as informações também é essencial. O excesso de informações pode gerar sentimentos de ansiedade, angústia e medo. Distrair a mente com livros e filmes podem nos levar para outras realidades, o que é ideal para sairmos um pouco da atual situação. Seja solidário, pois, no momento em que exercitamos a empatia, nos colocando no lugar do outro, nos sentimos melhor e termos a certeza que estamos fazendo a nossa parte diante de tudo. Por fim, procure ajuda da psicologia. Se perceber que não consegue lidar com a ansiedade, a ajuda profissional é fundamental.
A desconfiança da ciência, incitada principalmente por essa grande onda de fake news, pode piorar a ansiedade? Explique.
Talvez de forma indireta. Consumir informações falsas podem iniciar ou agravar quadros ansiosos, por isso a importância de sempre buscar informações de fontes seguras e confiáveis e na dúvida não repassar informações. Nesse momento, é de extrema importância compreendermos que a ciência é a fonte mais confiável de informação acerca da Covid-19.
Muito se fala sobre que as sensações de medo e pânico ficaram afloradas a partir da existência desse inimigo invisível: a pandemia de Covid-19. Como lidar com isso?
Assim como a ansiedade, os sentimentos de medo e pânico podem ficar mais evidentes e difíceis de serem controlados nesse período de incertezas. Podemos tentar lidar com esses sentimentos da mesma forma que faremos com a ansiedade. Assim, as dicas já sugeridas para a ansiedade também servem para esses casos.
Além disso, reitero, se perceber que – seguidas as dicas – os sintomas graves de medo e pânico ainda perdurem, procure ajuda profissional. Mesmo em atendimentos à distância, o acompanhamento de um psicólogo é fundamental nesses casos.
Você considera que as sensações de impotência e pessimismo podem surgir diante dessa crise? Se sim, como lidar com elas?
Em períodos difíceis [como o que estamos vivenciando] é comum que os sentimentos negativos se sobressaiam aos positivos. Para lidar com essas sensações, é importante a prática da resiliência, que é a capacidade de lidar com os problemas e adaptar-se às mudanças. Ou seja, buscar encarar o problema de frente, sem entrar em pânico e/ou pensar em formas de resistir à crise, até que a situação se normalize.
Sobre essa nova rotina familiar, limitada ao isolamento físico, quais orientações podemos dar às famílias e alunos? É possível delimitar horários e espaços de trabalho, estudo e lazer mesmo em confinamento?
A receita para o convívio é a mesma: não há receita certa. Conviver é algo que sempre está em construção, mas, talvez seja preciso uma maior dedicação ao equilíbrio na convivência agora, considerando sua maior intensidade.
Uma das possibilidades é que os familiares pensem conjuntamente sobre uma nova rotina, durante o período de isolamento. Ao invés de impor regras de acordo com a hierarquia de cada família, a decisão de divisão e distribuição de tarefas domésticas devem acontecer em comum acordo e podem contribuir com a harmonia familiar. É viável e necessário que se delimite horários para o cumprimento dessas atividades, mas, para que isso seja possível, é preciso que se respeite a individualidade de cada sujeito, bem como as suas necessidades específicas.
Em meio a pandemia, os momentos de lazer se tornaram ainda mais essencias de serem vividos dentro do lar e, se forem realizados de forma conjunta, tornam-se ainda mais prazeroso. Resgatar brincadeiras antigas, assistir filmes e praticar esportes juntos, mesmo que em casa, torna-se ainda mais divertido.
Sobre as relações sociais e momentos de diversão, como lidar e buscar a aceitação dos limites que grande parte da nossa convivência acontecerá virtualmente – através de uma tela?
É necessário compreender que trata-se de uma situação passageira, incerta, mas, que vai passar. Se reinventar é fundamental. De nada adianta “brigar” com a realidade. É preciso, em primeiro lugar, aceitar essa condição e fazer o melhor possível diante ela.
Podemos dizer que a sensação de ócio se torna mais frequente neste período? Como lidar com ela?
Provavelmente sim. Em algumas pessoas mais que em outras, justamente por sermos seres subjetivos e individuais. Acredita-se que a forma mais eficaz de buscar combater o ócio é o estabelecimento de uma rotina, no entanto, é preciso conhecer e respeitar seus limites. Não precisamos nem devemos ser produtivos o tempo todo é preciso compreender que possuímos limitações e respeitá-las
Deixe sua mensagem final para alunos e famílias.
É momento de olharmos pra frente, de nos encontrarmos com nós mesmos. Em um ritmo novo, com olhar atento e sensível, é hora de transformação.
Seguimos confiantes que em breve possamos estar todos juntos novamente.